COPEL (1)
– uma empresa que é parte de uma história de orgulho dos paranaenses
Entrei na Copel (2) em 11 dezembro de
1968 iniciando um caso de paixão profissional que resiste ao tempo apesar da
atuação do Governo Federal a partir da década de noventa do século passado,
quando simplesmente, via uma constituição federal equivocada, tiraram a
autonomia dos estados em seus serviços essenciais, exceto naqueles que a União
deixou com desdém para os componentes desse sistema presidencialista ruim para
todos (3) .
Comecei estagiado em Maringá e
Apucarana, ganhando convicção dos meus defeitos e virtudes. Época dos geradores
diesel e falta de conhecimentos profundos sofri os efeitos da ignorância,
inclusive passado o Nata de 1988 todo cheiro de pequenas queimaduras de óleo diesel,
cuja fuligem cobriam o entorno dos caixotões das máquinas, sobre as quais
mergulhei seguindo fios de automação.
Ontem, 31 de março, o assunto foi
sustentabilidade em uma reunião do LCC Batel; a nostalgia do que vi e
participei na COPEL foi imediata, até porque ouvia afirmações que me
preocupavam. Hoje, olhando o portal da empresa, a eterna constatação de que a
história é escrita e reescrita ao sabor dos poderosos de plantão, que pena!
A Copel tem uma bela história que
deveria ser registrada sem paixões políticas.
Já ao final da década de
sessenta, trabalhando em suas usinas e subestações (testes e laboratório), via
a preocupação severa da companhia na sustentação de matas e florestas em torno
dos seus reservatórios, algo de grandes dimensões que contava até com um
laboratório de piscicultura na serra junto ao reservatório da Usina de Capivari
Cachoeira (4) ao final de sua
construção realizada pela ELETROCAP (5) .
Em Campo Mourão o Lago Azul (6) apareceu com o que
hoje chamariam de PCH (7) , infelizmente os
agrotóxicos que lá chegavam começavam a poluir um lugar que deveria saudável.
Lá, contudo, um enorme canteiro de mudas de árvores contribuía para o
reflorestamento onde fosse necessário e, pessoalmente, gastei meses com uma
excelente equipe em diversos trabalhos extremamente interessantes com suas
máquinas e desafios.
Já naquela época a área de
distribuição produzia um manual de como escolher e plantar árvores nas cidades,
infelizmente pouco usado pelas prefeituras. Hoje, graças à Usina de Campo
Mourão e à paixão do povo desta cidade pelo lago formado existe um parque estadual
para preservação ambiental.
No início de 1973, por aí, recebi
um telefonema da CEEE, o interlocutor dizendo, nesses termos: “Dr. João Carlos,
estamos lhe enviando os alevinos que pediu”. Pedi desculpas informando que ele
estava falando com o João Carlos errado e, pela primeira vez atinei para a
preocupação da empresa em relação ao peixamento de rios e reservatórios.
A Usina de Salto Grande do Iguaçu (8) , hoje submersa pelas
águas de Foz do Areia (9) , era outro ponto de
canteiros o que se repetiu em Foz do Areia, com proporções muito maiores. Essa
usina foi uma grande escola para todos nós que a vimos nascer e submergir nas
águas de Foz do Areia. Naqueles tempos poucos imaginavam o crescimento vertiginoso
do consumo de energia elétrica que viria a acontecer.
A encampação da Companhia de
Força e Luz do Paraná trouxe mais usinas (hoje seriam PCHs) e linhas de
transmissão assim como a conexão à ANDE um bocado de experiências técnicas
extremamente interessantes. Naqueles tempos (1973) o CCOI (10) começava a estudar
estabilidade de sistemas de potência; em Foz do Iguaçu/Acaray aprendemos na
prática o que isso significava, sem contar a interligação com a CESP em
Londrina (oscilava permanentemente num sistema quase linear que ia até o Rio
Grande do Sul) e até dentro de nosso sistema em Júlio de Mesquita Filho, mais
ainda na Subestação de Campo Comprido onde fora instalado um compensador
síncrono que teimava fugir de sincronismo e víamos em seus ponteiros a ação da
Marion (11) ...
Na RMC um parque de preservação
ambiental em plena serra e Mata Atlântica reforçava a área dedicada à fauna e
flora já existente e a recuperação de usinas utilizadas ao extremo foi o
desafio dos anos seguintes. A distribuição de energia elétrica em Curitiba
seria uma oportunidade maior, travada, contudo, pelos anos perdidos na crise
econômica excessivamente longa em que nosso país mergulhou.
A Terra das Araucárias ampliava
seus espaços de agricultura e pecuária, gerando cidades que precisavam de luz e
água (SANEPAR), assim grupos geradores diesel (ALCO e GM) assim como PCHs e
menores foram absorvidas pela COPEL (12) , dando muito
trabalho e poucos MWh. A criação da malha de transmissão com linhas de 138 kV
(a princípio) e subestações relativamente grandes foi o passo ousado e bem
sucedido para a estabilização de um sistema que oscilava e tinha apagões quase
diários, algo que a instalação de uma coleção de relés de frequência (GE e BBC)
acabou penalizando, contudo, cargas eleitas para desligamento.
As instalações da Petrobras foram
nossa referência de qualidade, afinal teriam enormes prejuízos se ficassem mais
que 2 segundos sem eletricidade...
O Paraná (e o sul do Brasil)
ganhou o Load Shedding e eu faturei minha dissertação de mestrado na UFSC
(1974).
Na Usina de Segredo (13) , em função de
estudos ambientais ainda pioneiros a Copel construiu uma vila e relocou
moradores; junto à vila de seus operadores (eram tempos sem automação e
telessupervisão) a Copel fez mais, um enorme conjunto de tanques para
peixamento (14) do Rio Iguaçu e
laboratório além de um museu com artefatos indígenas encontrados em seus
trabalhos com usinas.
A ao final dela a complementação
com a água do Rio Jordão, ou seja, graças a um túnel de 4,9 km e quase 1 metros
de diâmetro o complexo Segredo + Jordão ganhou 50 MW Médios de energia. Algo
equivalente ou maior do tínhamos com Capivari Cachoeira, infinitamente mais
cara. Projeto simples, rápido mas carente de bons projetistas e executores. A
Copal soube fazer esta.
A Usina de Salto Caxias teve um
processo de intensas negociações que a precedeu, culminando com um cenário
positivo para os habitantes locais (15) e desenvolvimento de
novos padrões na Copel, desde opções técnicas a novas formas de comissionamento
e relacionamento com os atingidos pela barragem.
Na Presidência da COPEL tínhamos
consciência da importância de abrir o capital da empresa. De alguma forma ela
precisava ter mais sócios que criassem alternativas de investimentos e maior
estabilidade diante de qualquer cenário político, assim 1994 (16) foi um ano de Road
shows, palestras e explicações que tiveram sucesso e mantêm a empresa dentro de
limites sensatos (17) .
O desafio era enfrentar um novo
quadro institucional.
Lamentavelmente os paranaenses
não tiveram forças para resistir a um processo centralizador de decisões
federais perdendo muito a partir da Legislação Nacional, sempre atenta a
interesses distantes (18) .
Gradativamente, contudo, por
efeito de um modelo que esvaziou a autonomia do estado do Paraná para decidir
sobre suas necessidades e futuro energético a Copel precisou inibir inciativas
importantes para o Paraná, entre elas a participação no SIMEPAR (19) , LAC, LAME e CEHPAR
(hoje LACTEC) e vive um cenário ditado por tecnocratas distantes. Ou seja um
serviço essencial ao povo paranaense depende de leis e decretos feitos até por
capricho de governantes via as famigeradas Medidas Provisórias.
Esses ambientes de P&D e
serviços especiais eram muito importantes para a segurança e qualidade de
serviços, mas caíram na vala comum da alienação nacional. Foram obrigados a
ceder diante do império de leis e decretos feitos sob medida para as
conveniências de quem mandava n0o Brasil.
O SIMEPAR e a criação de sistemas
corporativos de informação vieram de encontro a deficiências clássicas da
empresa no momento certo em que a Tecnologia e os desafios operacionais o
exigiram. Logo no início de meu mandato como Diretor de Operação da Copel
precisei tomar decisões extremamente importantes sobre a operação das usinas do
Rio Iguaçu, com destaque para Foz do Areia; o que me surpreendeu foi a
precariedade do sistema de aquisição de dados no eixo em que se investira
bilhões de dólares e colocava em risco a vida de milhares de pessoa, era
simplesmente ridículo. Paralelamente o desespero de conversar com os nossos
“pilotos”, escravos de programas antediluvianos. Assim recebi espontaneamente a
visita do engenheiro Nelson Gomez, atual presidente do Instituto de Engenharia
do Paraná. Pessoa diligente, criativa e trabalhadora trouxe o connect
(intranet) iniciando uma transformação radical de procedimentos na COPEL, que
além disso instalava circuitos de cabos de fibra ótica até nas linhas de alta tensão
(OPGW0. Pouco mais adiante o engenheiro Marcos Lacerda apareceu ao lado do eng.
Rogério Moro com um estudo para implantar o que viria a ser o SIMEPAR, que
maravilha” completamos assim após um calvário de ações de cooptação e promoção
que fez da Copel uma referência nacional, só não muito melhor pela incapacidade
de algumas lideranças, rotina!
Ainda manda um pouco mais na
COMPAGAS [ (20) , (21) , , que escapou por
muito pouco de ser mais uma concessionária licitada pela União a partir de
janeiro de 1995. Felizmente antes dessa data fatídica pudemos criar a COMPAGAS,
apesar das atravessadas da PETROBRAS e pressão de parceiros privados.
Mais uma vez a lura para criação
de uma concessionária tremendamente estratégica à otimização do quadro
energético do Paraná. Poderia ter sido criada antes, não o foi perdendo
oportunidades de ouro para a contratação privilegiada de gás. A mediocridade
não tem limites.
Na Companhia Paranaense de
Energia muitos trabalhos foram geradores de cultura técnica que até hoje dão
resultados. A empresa automatizou instalações e criou sistemas de supervisão
usando seus próprios recursos humanos após contratar e ter um excelente Centro
de Operação do Sistema, implementou um belíssimo Programa de Qualidade Total, a
partir de 1991 começou a usar a intranet (Connect) gerando programas
corporativos inovadores com PCs (388 e 488 à época), tinha um excelente Centro
de Treinamento e, acima de tudo, aprendeu a negociar democraticamente os seus
projetos.
O Paraná ainda tem a COPEL, uma
holding que pode fazer muito mais. Se existe uma razão para defender a COPEL é
a sua competência técnica (lamentando sempre os PDVs feitos para quê?) capaz de
apoiar associações com outros grupos de empreendedores, bastando a empresa se
descolar da “vocação” energética. Bons engenheiros sabem que as leis da
Natureza não mudam, não existe moto perpétuo e adquirem sólidos conceitos de
custo-benefício. Com a vigilância cada vez mais eficaz da sociedade organizada
ou não, institucional ou de mercado, sentimo-nos seguros de ver com satisfação
e potencial da Companhia Paranaense de Energia, valendo até mudança de nome, se
necessário. Poderia acrescentar ao termo Engenharia a palavra “Infraestrutura”
sem mudar o nome fantasia: COPEL (22) .
O povo atento e usando todo o
arsenal hoje existente de vigilância poderá inibir a demagogia e a
desonestidade, o que faltou à PETROBRAS e a Operação Lava Jato mostra para
nossa tristeza dia a dia.
Cascaes
1.4.2015
1. Políticas de governo e empresas públicas
(1948-1963). [Online] Memória da Eletricidade. [Citado em: 1 de 4 de 2015.]
http://www.memoriadaeletricidade.com.br/default.asp?pag=5&codTit1=44360&pagina=destaques/linha/1948-1963&menu=381&iEmpresa=Menu#44360.
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5. COPEL Informações
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6. Parque Estadual
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2015.] http://campomourao.pr.gov.br/turismo/parques.php.
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http://www.copel.com/hpcopel/root/pagcopel2.nsf/arquivos/relambientalmou/$FILE/RelAmbientalMOU.pdf.
8. História da
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